Como Sair de um Jeito de Ser Rígido para um Jeito de Ser Mais Fluído: Um Caminho de Autocompreensão e Flexibilidade
- Calúzia Santa Catarina
- 28 de set. de 2024
- 4 min de leitura

A vida é uma dança de interações e relacionamentos, onde nossa forma de ser e agir define como nos conectamos com o mundo. Muitas vezes, essa dança pode ser marcada por uma rigidez interna, um jeito fixo de pensar e sentir que limita nossa capacidade de compreender o outro e, consequentemente, ser compreendidos. O que muitos não percebem é que essa rigidez pode nos isolar, gerando mais conflitos e frustrações em nossas relações.
Quando agimos de forma rígida, carregamos crenças muito específicas sobre a vida e sobre as relações. Essas crenças, formadas ao longo da vida, se tornam guias internos que moldam nossa forma de interpretar o mundo. Pensamentos como “preciso resolver tudo sozinha” ou “não posso magoar ninguém, mesmo que me machuque” podem nos aprisionar em padrões que dificultam o diálogo e o entendimento do outro. E a realidade é que a vida e as pessoas são pluralistas – há sempre mais de uma forma de ver e sentir. Não conseguir se abrir para essa pluralidade pode nos colocar em situações de incompreensão, desgaste emocional e solidão relacional.
No entanto, existe um caminho de transformação possível: sair desse jeito de ser rígido e adotar uma forma de ser mais fluída, mais aberta ao diálogo e à adaptação. Esse movimento não significa abandonar completamente suas crenças, mas sim aprender a revisá-las à luz das relações e situações que vivenciamos. A chave está em desenvolver flexibilidade emocional e cognitiva, permitindo-se repensar suas certezas e estar aberto ao outro como ele é.
Entendendo a Rigidez

A rigidez pode ser vista como uma defesa. Quando seguimos nossas crenças de forma inquestionável, muitas vezes estamos tentando manter uma sensação de segurança e controle sobre nós mesmos e o mundo. Isso é comum em pessoas que, por diferentes razões, sentem que não podem se expressar ou se mostrar vulneráveis. A crença de que “preciso guardar meus sentimentos para não causar problemas” é um exemplo claro de uma rigidez que visa proteger a pessoa de possíveis rejeições, conflitos ou mágoas.
Porém, como Carl Rogers, psicólogo humanista, sugere em seus estudos, a pessoa plena é aquela que está em constante processo de mudança, aberta a novas experiências e aprendizagens. Para Rogers, a rigidez é uma forma de resistência ao fluxo natural do desenvolvimento humano. O processo terapêutico que ele propunha, a “Terapia Centrada na Pessoa”, buscava justamente ajudar o indivíduo a acessar essa flexibilidade, promovendo um espaço seguro para que as pessoas pudessem se observar, se aceitar e, com isso, se transformar.
A Transição para um Jeito de Ser Mais Fluído

Sair dessa rigidez não é um processo simples. Afinal, estamos lidando com crenças e comportamentos que nos acompanharam por muito tempo. A mudança pode gerar ansiedade e desconforto, pois, muitas vezes, agir de maneira diferente daquele “jeito automático” parece desafiador. No entanto, é justamente esse passo que nos leva a novas possibilidades, ao crescimento e à construção de relações mais saudáveis e autênticas.
Uma pessoa que sempre guardou seus sentimentos por medo de magoar os outros pode, ao começar a se expressar, sentir-se inicialmente culpada ou temer o abandono. Esse medo é natural, mas também faz parte do processo de descobrir que suas emoções e necessidades são legítimas e merecem espaço. O que está em jogo aqui não é apenas o desejo de preservar o outro, mas também a capacidade de se respeitar e de estabelecer limites saudáveis.
Construindo a Flexibilidade: Um Caminho de Autocompreensão

O primeiro passo para sair da rigidez é a autoobservação. Ao nos darmos conta dos momentos em que estamos sendo rígidos, temos a oportunidade de questionar as crenças e padrões que estão nos guiando. Pergunte-se: "Por que estou agindo assim? Quais são as crenças por trás desse comportamento? Elas ainda fazem sentido para mim hoje?"
Essa autoobservação, no entanto, precisa ser constante. Mudar padrões enraizados leva tempo e requer prática diária. Você pode iniciar por pequenas situações cotidianas, experimentando novas formas de agir. Por exemplo, se o seu padrão é evitar conflitos a qualquer custo, comece a expressar de forma gentil e honesta suas insatisfações em conversas mais simples. Aos poucos, isso pode ser expandido para contextos mais complexos.
Abrindo Espaço para o Diálogo
Além disso, é fundamental abrir-se para o diálogo com o outro. Ser mais fluído significa estar disposto a ouvir e também a ser ouvido. Rogers ressaltava a importância de criar um espaço de compreensão mútua, onde as pessoas podem se expressar sem medo de julgamento. A flexibilidade não exige que você abandone seus valores, mas que você os apresente de maneira aberta e escute os valores e perspectivas do outro.
Estruturando o Processo de Mudança
Algumas dicas práticas para ajudar nessa transição incluem:
Identifique suas crenças rígidas: quais pensamentos automáticos você tem em relação às suas relações e situações do cotidiano? Escreva-os e reflita se eles ainda fazem sentido.
Experimente pequenas mudanças: escolha um comportamento que você quer mudar e coloque em prática em situações mais leves. Isso te ajudará a se sentir mais confiante para mudanças maiores.
Respeite seu tempo e suas emoções: mudar pode ser desconfortável, e você pode sentir resistência. Dê-se tempo para se adaptar e observe suas emoções sem julgamento.
Esteja aberto ao outro: pratique a escuta ativa nas suas relações. Busque entender a perspectiva do outro sem a necessidade imediata de ter uma resposta pronta.
Seja constante e paciente: a flexibilidade emocional é construída aos poucos, e é natural que surjam desafios ao longo do caminho. Tenha paciência consigo mesma e celebre as pequenas conquistas.

Sair de um jeito de ser rígido para um jeito de ser mais fluído é um processo de descoberta e construção. Requer autocompreensão, abertura ao diálogo e, acima de tudo, a disposição de mudar. Pode ser um caminho desafiador, mas também libertador. Ao nos permitirmos rever nossas crenças, estamos também nos dando a oportunidade de viver de forma mais plena, mais conectada com o outro e com nós mesmos.
Ao final, como bem dizia Carl Rogers, “a única pessoa que é educada é aquela que aprendeu a aprender e a mudar”. Portanto, ao abraçar essa jornada de flexibilidade, estamos nos permitindo crescer e nos adaptar de maneira mais saudável e verdadeira.